Paixão Arde, Desejo Trai

Mostra de Poemas Comentados de Ibernise

Textos


Ceres em Cena


Era verde o canavial
Com tantas canas maduras
Numa lavoura industrial
Racional em linhas puras

Quantos de certo ficaram
Não se sabe. Atrás dos muros,
Não se sabe os que tombaram
No campo de trabalho duro

A luta era pela terra
Mas escondia atos impuros
De dia lavoura é guerra
De noite é pecado à fechadura

E este tempo era preferido
Para liberdades ao escuro
Abraços, e voos escondidos
Nas canas tantas aventuras

Colheita além de céus
Terra onde se planta futuro
Humanos girando em carrocel
No crivo a dor das torturas

Encontram no seu calvário
O amor à terra, lição, ventura
E crescem naquele cenário
Onde tocam suas partituras

Embalde se recordariam
De tempos não obscuros
Onde mel e açucar verteriam
Das canas verdes futuras

Das safras que colheriam
Nos cantos e lugares seguros
Cantigas de ninar seriam
O consolo das lidas, sem furos.

Mas o tempo é senhor da gente
A fazer cenário conjuro,
Muda panoramas e mentes
Entre colheitas e semeaduras

E os seres viventes da terra
Revigoram seus monturos
Num abandono total que cerra
O bloqueio assaz imaturo

O solo fortalecido se restabelece
E das leiras surge o novo, a cura
E a aldeia festeja e agradece
A colheita, no tempo, prematura

Há mais espaço nas casas
E nos corações há fartura
No afeto, a partilha, a brasa
Que afeta a temperatura…

As lutas pela sobrevivência
Da fraternidade não cobram juro
Ideias clareiam as consciências
Sem medo, é mais rica a mistura

E vem tanta felicidade
No broto verde que é cultura
Cela onde cultiva-se verdade
O sentir que rejeita a usura

Na ação mais acrescenta
Se a liberdade é ventura
A coragem bem lhe assenta,
Acento e assinatura.

Assim a humanidade alinha
E a história vira literatura
Com o lavorar entre as linhas
Horizonte azul e verde na pintura

Quadro lindo da natureza
Que produz agricultura
E dói ver tanta beleza
Estrangular na cintura

Na mira da toxicidade
Ataca a saúde, traz desventura
Ameaça o campo e a cidade
Faz e desfaz o que configura

Põe em cheque a vivência,
Criador se transforma em criatura.
Resta sobreviver, pedir clemência
Num claustro sem abertura…

Ibernise
Barcelos (Portugal), 26DEZ2011
Núcleo Temático Educativo.













Ibernise
Enviado por Ibernise em 27/12/2011
Alterado em 28/12/2011
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