Paixão Arde, Desejo Trai

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Ensaio Sobre a Dor do Amor...

Ações tem consequências que criam mundos totalmente diferentes, novos locais psicológicos onde o corpo passa a estar colocado, situado. Corpo carente, estaria no deserto, que seria um certo mundo, sem oásis. Desejo à flor da pele.

São tantos mundos, mas a percepção de cada mundo pertence ao agora, e todos eles sempre estiveram lá. Sempre estiveram lá, mas não assim passivamente, porque a pressão real está no presente, onde as ações acontecem.

O mundo do agora está esperando você consertar os seus erros, e ele é diferente do mundo aonde você cometeu esses erros. O agora é o seu cruzamento, aparentemente quatro caminhos, mas não há caminhos; '...caminheiro não há caminho, o caminho se faz na jornada' (poeta espanhol Antônio Machado).

E o ser humano quer escolher, mas não tem alternativas porque as escolhas foram feitas no passado. A alternativa aceitável é arrumar um lugar (mundo mental) onde se possa adaptar com todas as tragédias de sua vida.

Mas isso é algo muito arriscado, pois refletir geralmente acaba em uma situação onde não se pode ver as coisas da vida, pode ser que isto leve a uma negação do presente, gerando um limbo, um circuito neurótico do qual não se consegue sair sem ajuda do outro. O outro que você nega e se afasta neste estado de contemplação. E o agora escapa sutil e fugaz é quando o individuo se sente sozinho, e isso dói muito. Estar só é diferente de sentir-se só.

É como se o ser poeta ficasse uma hora inteirinha com a sua dor, na esperança de que ao lidar com a dor, as regras normais não se apliquem, como se a dor fosse um valor a mais, um escudo para as consequências de suas ações. Mas as regras que não foram cumpridas (erros) excedem o valor da penalidade sofrida pelos erros cometidos.

E no desespero do agora o homem daria todo o seu reino para se livrar desta dor e ainda não poderia comprar nada com a dor. Porque a dor é inútil, diante da realidade, do agora que não pode ser mudado, pois é consequência e o passado não volta. Assim não há antídoto. E o ser em agonia continua a negar a realidade do mundo em que está. E a negação é a cegueira que o impede de encontrar uma saída...

Pelo grande amor, que sente, não hesitaria em trocar de lugar com o ser amado, se pôr em seu lugar e viver todas as consequências dos seus atos. Mas nem isto pode fazer, estão em mundos diferentes e sem conexão, o tempo de suas mentes os separam.

Ele imagina ver que aquele seu cruzamento é a sua vida, suas escolhas futuras, e que assim sendo, a vida não irá voltar atrás. Entretanto o significado deste cruzamento pode ser a percepção da nova realidade, no agora, um novo curso, um sentido diferente. Uma situação quase terminal como se entendesse finalmente que poderá estar vivendo os seus últimos dias de vida.

Portanto a existência da antiga realidade é um conceito no qual nenhuma resignação pode ser aceita, só a luta é o que resta, aí é quando todos os belos planos finalmente são expostos e revelados.

O novo ser emergido da dor e das sombras dos seus erros, se abriga na esperança plena e renova seus votos e sua fé no amor, pois no amor, aquecido ou frígido, todos surtam e sonham, fantasiam em outros erros. Porque o erro é inevitável para todos. Neste ínterim se surpreende com a capacidade de se apaixonar e de novo a paixão arde e o desejo trai pois a verdade não tem temperatura.

Contudo, a mentira, ah a mentira, esta nos faz viver em estado de graça, ainda que não seja para sempre é sempre eterno este sentir, a cada evento novo. Ainda bem que a saída está bem próxima, na altura de um olhar mais apurado, de uma lembrança mais terna, de um desejo de ver o que não está lá...

In: 'Ensaio Sobre a Dor do Amor' Prosa de Ibernise.
Barcelos/PT, 04DEZ2013
Ibernise
Enviado por Ibernise em 04/12/2013
Alterado em 05/12/2013
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