Paixão Arde, Desejo Trai

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Textos

O Dia do Meu Amor é Festa

Deixa de fazer barulho ó minha solidão. Preciso te pedir licença, pela presença do meu amor que logo chega.

Desculpa porque vou te esquecer num canto qualquer e sequer vou lembrar que existes, que és tão certa e discreta para todos, e assim sendo, és pra mim também.

Breves momentos em que estarei em seus braços, serei a estrela do seu céu, serei o recheio do seu trigo, serei abrigo, serei riso, serei vida sem ilusão, sem medo da verdade, nem mentiras. Misturada com meu amor serei só felicidade.

E a cama nos acolherá e não mais a ti, não venhas me seguir, segue sem olhar comprido, deixa eu ser destemida e me entregar a minha paixão. Num entrelaçar de coxas, num respirar rente à minha pele, no silêncio das suas e minhas palavras e no barulho de nossas mentes, daquilo em que me sinto, e daquilo em que ele, ao me amar , também sente.

Oh! Minha solidão, deixa bastante espaço para eu dançar sobre o seu corpo e ele sobre o meu bailar, e me tocar em muitos sins...

Nesta hora também serei música, instrumentos e orquestra de tudo e para onde esta onda feliz levar e trazer de volta do tudo deste sentir para o nada do teu desejar, solidão. Pois este é este o teu alimento, e de tanto repartires comigo, o teu desejo, ficou perene em mim, mas em instantes vai mudar de cor, vai ser multi-colorido ao lado do meu amor.

Ó meu amor já não estou só. Vem batucar e cantar nesta avenida onde só tu sabes o endereço. Aqui tu compões samba e enredo de cada desfile, de cada alegoria e adereço que já agora imagino ouvir e já me faz delirar.

Esta festa já está a ser sentida, previamente, minuto a minuto, segundo a segundo, na espera vivida.

Dorme em meu peito, repousa aqui toda a paz deste aconchego do depois, pois o antes e o agora já teriam sido, mas continuarão sendo em mim.

Assim até o amanhecer será esquecido, e as noites e os dias, e o tempo não passarão em teu espaço amor. Já estás a ouvir-me repetir teu nome enquanto eu ouço do meu nome cada letra sair de tua boca, num ressoar que é só do momento. Eterno momento de cada enlace que nos ata, sem começo nem fim, porque o tempo dos enamorados, é sempre.

Aqui já não te vejo mais ó solidão, já formou-se um par, mas parece que ainda sou eu...

Talvez seja, talvez não. É que de tanto se amar a coisa desejada, esta fica contida em si e em mim. Eu e meu amor um contido no outro. É assim que o amador se transforma na coisa amada.

Humm... Mas isto não é solidão? Sei não tenho que ler Camões novamente...



In:'O Dia do Meu Amor é Festa' Prosa de Ibernise.
Barcelos (Portugal), 19OUT2014.
Ibernise
Enviado por Ibernise em 16/11/2014
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