Tua lembrança me conforta. Bom descobrir isto na tristeza, dos meus dias intermináveis, ou na felicidade indescritível de sentir um momento contigo. Porque vivemos uma ânsia de sentir o que podemos fazer pelo outro. Mas agora sei que não é só preciso fazer. Há um determinado nível de gostar, em que já não precisamos fazer um para o outro, mas ser um para o outro.

Dar o que a gente tem para o outro é simples e fácil. Mas é importante dar o que a gente é. Não é preciso que tu faças alguma coisa por mim. Preciso antes, que sejas alguma coisa, para mim, significativamente caro este partilhar. E este teu ser é tudo pra mim. Insuperável e surpreendente. Sentir que absolutamente nada que faças, possa mudar isto, porque já és.

És meu amado, minha esperança, minha alegria e minha tristeza. O meu tempo na íntegra no passado, presente e futuro, tudo  junto no meu agora. Não passa pela matéria, não passa pelo que consigo enxergar, tocar, cheirar, ouvir ou degustar. Não está entre nós. Está em outro nível de sensibilidade. Um nível, tão somente, independente. E descobri que é libertador é completamente gostoso de sentir. Na tristeza que é a tua ausência, tua lembrança me conforta.
In:’Composição de um Conjunto’ prosa de Ibernise. Barcelos, 20OUT2017.