SOFIA (VISTA POR IBERNISE) Artigo Publicado em 'A Seda das Palavras', Um Grato Presente de Amigo.
SOFIA (VISTA POR IBERNISE)
1.
À medida que o tempo humedecia,
crescia entre a areia do pecado,
cálida na substância e na idade.
Fez-se mulher: sumo de romã
em taça fria.
2.
Sacudiu graciosamente os ombros,
abotoou, lasciva, o último botão,
pegou na sacola, cingiu o corpete,
e partiu naquele dia, como nos demais,
mas jamais apareceria,
Sofia.
arfemo
Comentário de Ibernise para Arlindo Pato Mota, Publicado: 16/03/2010 00:20 Atualizado: 17/03/2010 00:13
Olá Arlindo.
Poema cadenciado num ritmo sugerido pelas rimas internas, produzindo um efeito sonoro especial, durante a declamação. Uma construção q envolve o simples numa complexidade q se expande exponencialmente.
São várias as vertentes para serem exploradas num poema riquíssimo como este, mas vou avaliar a questão da dádiva…
Sofia parece ser muito dadivosa… Mesmo se considerarmos as questões filosóficas.
Faço este destaque considerando q este excerto é cerne, que promove o entendimento das atitudes de sofia, intencionais e manifestas:
'… cálida na substância e na idade.
Fez-se mulher: sumo de romã
em taça fria.'
A beleza lasciva chamando atenção ao último botão é de uma singeleza sem par. Uma imagem que fica… Uma mulher a abotoar o ultimo botão… Tem muito de tudo e de nada.
No entanto aq realçando apenas a dádiva…
Os botões lembram um final, podendo lembrar uma desistência em pleno interlúdio amoroso.
O q se dá a alguém q muito quer mas às vezes n sabe receber. E assim, a graça da dádiva se torna a mácula da entrega… Mas isto n nos deve impedir de sermos generosos… Como saber antes de entregar algo, se alguém vai ou n saber receber?
Sofia desaparece… Um desaparecimento q pode n ser… Sugere q poderia ser uma mudança de atitude, e como tal, crescimento implica num renascer onde o antigo ser 'deixa de ser'… Pra aparecer renascido em novas atitudes, é …
Mesmo entendendo que mais vale acreditar na riqueza da dádiva do que se recusar a acreditar no amor de quem irá recebe-la, penso que é isso q todas as sofias, em algum momento da vida, precisam avaliar, nas suas escolhas.
Ainda q seja necessário se tornarem uma nova pessoa, desaparecendo, enquanto renascem de cada experiência… Momento duro de incorporar, mas necessário p escrever uma nova história, começando pelas suas próprias…
É um grande prazer Arlindo estar aqui neste contato, sempre de perto.
Parabéns, eu recomendo
Beijos
Ibernise.
(*)IBERNISE, credenciada poeta brasileira, companheira do site Luso-Poemas, tem prodigalizado alguns poemas aí publicados, com comentários que são verdadeiras análises literárias, caso singular de atitude pedagógica e de amizade, que por raro e notável, não gostaria de deixar sem um registo aqui, no Seda das Palavras, com um profundo gesto de agradecimento e de carinho. arlindo pato mota
sábado, 20 de Março de 2010
Para ler este artigo na origem clique neste link:
http//asedadaspalavras.blogspot.com
Arlindo Pato Mota (arfemo) é poeta e escritor português.
Palavras de Arlindo em autoapresentação de sua proposta literária,( citação de um extrato de comentário do escritor):
'Há uns anos, guardei para a poesia toda a minha liberdade e interioridade: daí nasceu a Seda das Palavras (livro esse de onde expurguei todos os poemas militantes de livros anteriores e explorei dois continentes aparentemente antagónicos: a emoção e a reflexão: fiquei assim com a poesia e a filosofia, abraçadas, gémeas na forma como as sentia e reflectia)... mantive na crónica e no ensaio a minha matriz (contracorrente eu sei, mas pelo menos tento fazer o melhor possível, sem demagogia nem lugar comum. Se o consigo, de mim depende apenas o tentar!).'
Arlindo professa em sua poética um estilo próprio. Preza o incentivo a troca de idéias, nas 'conversas' que mantém com seus leitores, que interagem com sua poesia de uma forma especial, carinhosa e participativa. Um exemplo de que a poesia se consolida na vida e nas relações humanas se constroie e reconstroe.
Aqui deixo expressa minha gratidão a este amigo querido.
Parabéns Arlindo, e muito obrigada sempre pela companhia através das nuances dos versos e consequentemente das palavras.
Ibernise
Indiara (Goiás/Brasil), 31.03.2010.